quinta-feira, 11 de outubro de 2018

Haddad se livra de Lula e muda identidade da campanha para suavizar antipetismo

Do Blog Carlos Santos

O candidato do PT, Fernando Haddad, começou o segundo turno eleitoral em larga desvantagem em termos de intenções de voto. Um pouco antes disso, já apresentou mudança radical na identidade visual de sua campanha e profundos ajustes no discurso.

As estratégias procuram retomar ritmo de crescimento que estacou perto do final do primeiro turno, para atropelar o contendor Jair Bolsonaro (PSL), que surfa na dianteira.

Nova logomarca expurga o vermelho e escanteia imagem de Lula como apoio a Haddad (Print: reprodução)

No primeiro turno, Haddad tinha a companhia de Lula da Silva (PT) como principal peça de alavancagem, o que provocou diversos problemas com a Justiça Eleitoral em todo o país. Além disso, o vermelho padrão do partido era realçado de forma intensa. Agora, não.

Lula é descartado e escondido nessa fase e as cores da bandeira nacional aparecem de forma proeminente, como se o vermelho nunca tivesse existido. Paralelamente, em suas entrevistas pós-primeiro turno, o candidato descredenciou o ex-chefe da Casa Civil do Governo Lula, José Dirceu.

Em depoimentos à imprensa no primeiro turno, Dirceu prometeu radicalizar em relação à imprensa e amputar poderes do Ministério Público, por exemplo. Previu que o PT iria “tomar o poder”. A ordem é também escondê-lo.

Haddad repete o passado

Camuflar imagem pesada do partido para tentar neutralizar discurso antipetista dos adversários não é caso novo na legenda e na vida de Haddad. O mimetismo já acontecera antes. Em 2016, eleições municipais paulistanas, ele mudou o padrão de sua peças de propaganda para minimizar os desgastes. Não deu certo. Venceu João Dória, um tucano neófito em política.

Propaganda de Haddad encolheu número e diminuiu impacto do vermelho em 2016 e ele não venceu
(Foto: reprodução)

Por vários outros municípios do Brasil, a estratégia foi a mesma de outros candidatos do PT a prefeito. Desgastado em razão do processo de impeachment de Dilma Rousseff e dos escândalos da Operação Lava Jato, o partido saiu arrasado do pleito.

Em São José dos Campos em São Paulo, em 2016, o PT ficou azul e número laranja
 (Print arquivo)

Vice-presidente nacional do PT à época, José Guimarães disse que adotar uma tática de esconder os símbolos do partido é “dar um tiro no pé”. Dois anos depois, o mesmo PT demonstra que não aprendeu a lição. Atira no outro pé.

Em Brusque, Santa Catarina, o 13 praticamente desapareceu em 2016 e o vermelho foi retirado
(Print reprodução)

O deputado estadual Fernando Mineiro (PT) e advogada Carla Tatiane (PCdoB), candidatos a prefeito e vice de Natal no mesmo ano, também enveredaram pela construção de uma identidade visual menos agressiva.  Não vingaram nas urnas.

O marketing atenuou o vermelho e apostou no branco como uma cor ‘neutra’.


Fernando Mineiro e Carla Tatiane seguiram a receita da suavização do vermelho em 2016
(Print reprodução)

A foto oficial de campanha de ambos foi com os dois cobertos pelo branco. O vermelho foi uma cor acessória e episódica.

Na primeira eleição municipal em que os candidatos não puderam contar com doações de empresas, e para a qual dispuseram de apenas 35 dias de horário eleitoral gratuito, o PT teve o pior desempenho dos últimos 20 anos. O fracasso na disputa pelas 463.374 cadeiras de vereador e 5.568 prefeituras do Pais foi eloquente.

Desastre

O PT tinha 638 Prefeituras espalhadas pelo Brasil antes dos pleitos (primeiro e segundo turnos) de 2016. Terminou com 234, inclusive sem nenhuma no ABCD paulista, onde nasceu.

O PT encolheu também nas câmaras municipais. O partido teve perda percentual de 45,8%: foram 5.185 parlamentares eleitos em 2012 e em 2016 caiu para 2.808.

No dia 31 de outubro de 2016, às 9h38, o Blog Carlos Santos publicava essa postagem: Urnas derrotam o PT e exigem atenção redobrada dos vencedores. “Aos vencedores cabe a euforia da vitória, mas ninguém ganhou salvo-conduto para repetir ou alargar os erros do petismo e seus colegas de poder em mais de 13 anos de aboletados no Planalto e Esplanada dos Ministérios. O voto é um ativo muito volátil”, assinalamos na matéria à época, há quase dois anos.