A eletrificação da economia não é mais hipótese: é uma trajetória em curso | Artigo de Jean-Paul Prates
Jean Paul Prates é ex-senador da República
As maiores economias do mundo já definiram prazos para o fim da venda de veículos a combustão, investem em mobilidade elétrica e priorizam tecnologias industriais descarbonizadas. Nesse cenário, a pergunta para o Brasil não é se devemos seguir esse caminho, mas quem, dentro do território nacional, está mais bem posicionado para liderar essa transformação. E a resposta não está nos centros industriais tradicionais, mas em regiões muitas vezes vistas como periféricas: o Nordeste setentrional e a Amazônia.
Estados como Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Piauí, Maranhão, Pará, Amapá, Amazonas e Roraima reúnem condições excepcionais para protagonizar a transição energética. Há abundância de recursos renováveis — ventos constantes, radiação solar intensa e rios com alto potencial hidroenergético — e menor dependência de infraestrutura de combustíveis fósseis. Isso favorece a adoção de soluções modernas e descentralizadas. É um ativo estratégico raro no mundo.
A região oferece também a chance de um novo modelo de desenvolvimento: limpo, eficiente e inclusivo. Onde a indústria ainda está em formação, é possível planejar, sob novos paradigmas, cidades, sistemas de transporte e cadeias produtivas com base em energia limpa. Diferentemente de centros saturados, o Brasil Equatorial pode crescer com foco em sustentabilidade e inovação.
Esse potencial é ampliado por uma realidade incontornável: os limites ambientais da Amazônia, do Cerrado e da Caatinga tornam menos viáveis os modelos baseados em biocombustíveis ou fósseis. Nessa realidade, a eletrificação com fontes renováveis locais é a alternativa coerente.
É hora de propor uma coalizão interestadual dessa região. Uma aliança para impulsionar políticas públicas, regulamentação e atração de investimentos em cadeias produtivas limpas — da eletromobilidade ao hidrogênio verde, da industrialização eletrointensiva à digitalização urbana —, promovendo um futuro comum baseado em energia verde, desenvolvimento regional e inclusão.
O Brasil precisa integrar natureza, inovação e inclusão. O Brasil Equatorial pode liderar esse novo pacto. Para isso, precisa se unir, planejar e agir com ambição. O tempo da eletrificação chegou — e pode começar por aqui.
*Artigo publicado originalmente no Diário do Norteste
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