segunda-feira, 18 de maio de 2020

Pesquisa estima dobro de mortes por Covid no RN

Por No Minuto

O total de mortes por covid-19 no Estado pode ser o dobro do oficial. É o que estima pesquisa da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (Uern), publicada no último sábado (16) na revista acadêmica Pensar Geografia, do Programa de Pós-graduação em Geografia da Uern. O trabalho projeta a subnotificação de mortes em quase 100% e de até 31,2% para novos casos com sintomas. E a quantidade de infectados assintomáticos 655% maior do que o oficial, se considerado 80% dos casos sem sintomas (OMS).

De autoria dos professores Gutemberg Dias e Filipe da Silva Peixoto e dos estudantes Carlos Daniel Silva e Souza e Marisa Rocha Bezerra, do Departamento de Geografia do campus central da Uern, o estudo visa a melhorar o entendimento epidemiológico da doença e se baseia em dados sobre Covid-19 e Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS) do Governo do Estado, Ministério da Saúde do Brasil, portal da transparência dos cartórios, Fundação Osvaldo Cruz e Google.

(Foto: arquivo/ Nominuto)

Cenários

A pesquisa é alicerçada em três análises distintas: casos oficiais da doença ante a subnotificação; espacialização temporal dos casos confirmados e mortes e o isolamento social no Estado. Considera as primeiras 19 semanas epidemiológicas (13 de março a 9 de maio) e, sobre a subnotificação, estima em 2.519 os casos sintomáticos, ante os 1.921 registrados pela Secretaria de Estado da Saúde Pública (Sesap). 

Projeta 169 mortes contra os 85 oficiais até o último dia 9 e, considerando a subnotificação de 655%, o Rio Grande do Norte pode ter 12.595 pessoas infectadas. Calcula ainda, com base na população estimada para o Estado, que 834 mil pessoas podem ser infectadas no Rio Grande do Norte, a partir das simulações.

Disparidade

A realidade oficial, no entanto, é diferente, mesmo uma semana após o período pesquisado: o Estado confirma 136 mortes e 3.004 casos, no boletim da Sesap, divulgado na tarde deste sábado (16). A diferença entre os números da pesquisa e os oficiais, segundo os autores, mostra a subnotificação como desafio a ser vencido pelas autoridades sanitárias contra o novo coronavírus.

Os pesquisadores chamam atenção para outro aspecto. “Existem 105 casos registrados como SRAG para o período. A análise desses números impele a Sesap a ter que aumentar a rigidez dos protocolos de análise dos óbitos por SRAG, na perspectiva de se evitar que óbitos por covid-19 estejam sendo contabilizados como SRAG”, escrevem os pesquisadores, no artigo “Análise da Distribuição Espacial da covid-19 e Subnotificação de Casos Novos e Óbitos no Estado do Rio Grande do Norte, Brasil”.

Disseminação

Sobre a espacialização da doença, mostra haver dois epicentros (Mossoró e Natal), dispersão generalizada no interior do Estado e que o contágio segue as principais rodovias federais no Rio Grande do Norte. A situação mostra a inexistência de barreiras sanitárias para quebrar a corrente de transmissão, a partir do fluxo de pessoas.

Agrava essa situação a queda do isolamento social no Rio Grande do Norte. “Os dados mostram uma retomada das atividades de circulação. Os acessos a estabelecimentos, como supermercados, mercearias e farmácias, estão nas mesmas bases de antes do início da decretação de emergência sanitária e as curvas das demais atividades caminham em direção a linha base”, alerta.

Alternativas

Com base nas análises, o estudo afirma a necessidade de manutenção do isolamento social para garantir a diminuição do ritmo de contaminação; aumento da testagem da população para garantir números mais próximos da realidade e o isolamento mais controlado de indivíduos contaminados; estruturação de barreiras sanitárias nas divisas com Ceará (onde há alta incidência) e no entorno dos municípios com mais dos casos confirmados e mortes e nas divisas com o estado do Ceará.

“Os números levantados têm um grande impacto nas estratégias de combate a pandemia e, certamente, podem balizar as autoridades de saúde no tocante à estruturação das ações em saúde, haja vista que a utilização apenas dos números oficiais pode levar ao subdimensionamento das ações necessárias ao controle efetivo da pandemia no estado”, alertam os pesquisadores Gutemberg Dias, Carlos Daniel Silva e Souza, Marisa Rocha Bezerra e Filipe da Silva Peixoto.

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